ARTIGO
19 maio 2017
A presença judaica em Torres Vedras está doravante perpetuada num centro interpretativo, o primeiro do país a ser inaugurado no âmbito do projeto Rotas de Sefarad.
Este equipamento foi inaugurado ontem, dia 18 de maio, situando-se num espaço conhecido como Cerca da Josefa, na zona fronteira à entrada do Castelo.
Nele é possível visitar uma exposição com diversos suportes que explicam a presença da comunidade judaica em Torres Vedras nomeadamente na Idade Média e no início da Idade Moderna. Atravessando as áreas expositivas acede-se a um pátio exterior que pode ser utilizado para espetáculos e outras intervenções artísticas, onde ontem os torrienses Ma'arav deram a conhecer música sefardita. Este equipamento conta ainda com outros espaços como uma receção e gabinetes de trabalho.
O excelente exemplo de requalificação urbana que constitui este centro interpretativo foi realçado pelo presidente da Freguesia de Santa Maria, S. Pedro e Matacães, Francisco Martins, que recordou o início do esforço de regeneração do centro histórico iniciado nos anos 90 e que tem incluído a intervenção no edificado e a instalação de associações e serviços nessa zona de Torres Vedras.
A construção deste centro interpretativo teve um custo de cerca de 356.843 euros, comparticipado em 234.600 euros pelo EEAGrants, um mecanismo de apoio financeiro criado pela Noruega, Islândia e Liechtenstein. A coordenadora da unidade nacional de gestão do mesmo, Susana Ramos, explicou que o seu objetivo é promover a qualidade de vida e a coesão dentro do espaço europeu, tendo referido que foi recentemente inaugurada em Oslo uma exposição sobre a presença judaica em Portugal.
Já a diretora regional de Cultura do Centro, Celeste Amaro, salientou a taxa de execução de projetos no âmbito deste mecanismo de financiamento, tendo anunciado que no fim de semana será inaugurado o segundo centro de interpretação da comunidade judaica do país, também na região, mais concretamente no concelho vizinho de Alenquer.
De referir a este propósito que esteve presente nesta cerimónia inaugural o vice-presidente da Câmara Municipal de Alenquer, Rui Costa, para além do torriense frei Vítor Melícias.
Também nesta cerimónia foi explicado que o projeto Rotas de Sefarad: Valorização da Identidade Judaica Portuguesa no Diálogo Interculturas, dinamizado pela Rede de Judiarias de Portugal, de que Torres Vedras é membro, “tem por missão redescobrir e promover o legado material e imaterial da presença judaica em Portugal, uma componente da realidade cultural, histórica e social do país. Em última análise, procura contribuir para o diálogo intercultural e para o encontro de tradições e de valores que evidenciem o papel da diferença e da diversidade na constituição da universalidade da existência humana”. Rotas de Sefarad “orienta-se para a defesa do património urbanístico, arquitetónico, ambiental, histórico e cultural relacionado com a herança judaica – de grande valor identitário para as comunidades locais -, com um enfoque especial na valorização de áreas urbanas, em particular dos centros históricos, criando, simultaneamente, um produto turístico de grande visibilidade, com reflexos diretos e imediatos na promoção dos núcleos históricos de cada uma das localidades envolvidas, incluindo Torres Vedras”.
Este foi um dos aspetos que o presidente da Câmara Municipal frisou no seu discurso, tendo a esse propósito anunciado que nas próximas semanas vai ser aberto o novo Posto de Turismo de Torres Vedras, no espaço do Edifício dos Paços do Concelho. Carlos Bernardes aproveitou também a ocasião para recordar o contributo que a comunidade judaica deu há séculos atrás para o desenvolvimento da então vila de Torres Vedras. Recorde-se que o “epicentro” da presença da comunidade judaica em Torres Vedras situava-se um pouco mais abaixo do equipamento que estava a ser inaugurado, mais concretamente na Rua dos Celeiros de Santa Maria, onde existiu inclusivamente uma sinagoga, espaço onde se localiza atualmente um passo processional.
Por fim, usou da palavra o secretário de estado das Autarquias Locais, o torriense Carlos Miguel, com quem teve início o projeto na ocasião inaugurado, quando desempenhava as funções de presidente da Câmara Municipal, que referiu a importância da criação de âncoras no centro histórico para a sua revitalização. Anunciou ainda que já existe um projeto para a requalificação do espaço público situado entre o centro interpretativo da presença da comunidade judaica e o Castelo, que gostaria de ver concretizado.
Aos discursos seguiu-se o descerramento da placa inaugural e uma visita-guiada à exposição patente neste centro, tendo ainda no pátio exterior do mesmo sido proporcionada uma degustação de gastronomia sefardita que se prolongou pelo início da noite.