ARTIGO
28 fevereiro 2017
Um insólito “barbecue” por volta do meio-dia na rotunda em frente à estação de caminhos-de-ferro não deixava dúvidas de que a cidade tinha sido tomada por uma verdadeira anarquia foliona.
Horas antes tinha sido assaltada por uma multidão vinda de todos os pontos cardeais que em busca de “paródia” tinha “abarrotado” as praças e as ruas do centro e da zona histórica de Torres Vedras, para além da discoteca Túnel, até ao raiar do dia.
Muitos que resistiram à “fatal tentação” da cama foram-se dirigindo para a zona do Corso que arrancaria ao início da tarde. “Miudos” e “graúdos” começaram espontaneamente a brincar ao Carnaval no dia do próprio com os característicos cocotes do Entrudo torriense, bem como com as típicas serpentinas da época, na sua versão de papel ou de gel.
À medida que as televisões iam fazendo os seus diretos e reportagens na zona do Corso, nesta ia-se verificando cada vez mais afluência de público, visivelmente ansioso pelo início da folia. Grupos carnavalescos, “matrafonas”, mascarados de todo o género e feitio iam aos poucos criando aquela que é provavelmente a maior demonstração performativa realizada no país. Grupos de percussão, cabeçudos, “cavalinhos”, grupos de mascarados, carros espontâneos e carros alegóricos iam também se juntando a esta festa que alguns chegam a elevar ao nível de intervenção artística, até que os Reis subiram ao seu Carro e deram início ao Corso, que transportou muitas das crianças que tinham vindo passear com os seus pais neste dia de Entrudo para um mundo encantado de fantasia certamente bem mais atrativo que o de ficção que veem na televisão.
Paralelamente, o “Carnaval mais português de Portugal” ia recebendo ilustres visitas. A primeira foi a do embaixador do Japão, Hiroshi AZUMA, que tinha estado em Santa Cruz um ano antes no encalço das pisadas de Kazuo Dan, poeta seu compatriota que no início da década de 70 habitou e viveu nessa estância balnear. Também atualmente célebre no Japão é, recorde-se, o padre jesuíta Cristovão Ferreira, oriundo da Zibreira, que faleceu no século XVII no país do sol nascente e que é uma das personagens principais do recém-estreado filme “Silêncio”, de Martin Scorcese.
Pouco depois chegava a Torres Vedras a embaixadora da Índia, Nandini Singla, que assim conhecia a cidade onde se realizou o Conselho Régio de 1414, no qual se decidiu a conquista de Ceuta, acontecimento que marcou o início da Expansão Ultramarina Portuguesa, na qual se integrou a epopeia dos Descobrimentos que teve precisamente como um dos seus pontos altos a expedição de Vasco da Gama àquele território asiático em 1498.
Nesta grande festa feita pelo povo de Torres Vedras e dos seus arrabaldes à qual o Município dá o seu suporte, de referir também as muitas lentes que a retrataram de forma a divulgar aquém e além-fronteiras aquele a que apelidam, como já citado, de “Carnaval mais português de Portugal”.
A festa foi-se prolongando até aos últimos raios de sol com o Tocándar a arrastar depois das cinco da tarde o seu habitual “mar de foliões”, neste caso a quererem sugar até à última gota o sumo carnavalesco que chegou ao fim pouco depois da volta apeada dos Reis que amanhã, 4.ª feira de Cinzas, serão julgados pelos muitos pecados cometidos no território que lhes foi confiado nos últimos dias…