ARTIGO
3 março 2015
Fernando Vicente, lutador antifascista torriense, membro do Partido Comunista Português (PCP), foi homenageado no dia 28 de fevereiro, na Biblioteca Municipal.
Essa ação, organizada por este partido em parceria com a Câmara Municipal, de forma a assinalar os 50 anos da morte desta figura política local (e também nacional…), consistiu na inauguração da exposição “Tarrafal, o campo da morte lenta” e na realização de um debate intitulado “Tarrafal e a resistência no Oeste”, a partir de uma comunicação de Domingos Abrantes.
Este membro do comité central do PCP efetuou no decorrer da mesma uma apresentação biográfica de Fernando Vicente e do contexto relacionado com a sua ação política. Nascido no Paul a 24 de abril de 1914, Fernando Vicente ingressou jovem na Armada, tendo em 1936, já como membro da referida força política e da Organização Revolucionária da Armada, integrado “a Revolta dos Marinheiros”, uma das primeiras sublevações contra a ditadura militar que ficaria conhecida como “Estado Novo”. Fernando Vicente acabou, devido à sua participação nessa revolta, por ser preso, tendo “inaugurado” o campo de concentração do Tarrafal, um campo de prisioneiros construído em Cabo Verde segundo o modelo nazi. Aí esteve durante 17 anos, onde foi sujeito a trabalhos forçados, à permanência na célebre “cela da frigideira”, a má alimentação e à falta de assistência médica.
Com o fecho da prisão política do Tarrafal (que viria no entanto a reabrir mais tarde para acolher os presos políticos envolvidos na luta independentista das colónias portuguesas) Fernando Vicente foi libertado, mas, mantendo a sua atividade política clandestina, como militante do PCP, viria de novo a ser preso, sem julgamento, em 1963, já com uma saúde débil devido aos maus tratos sofridos em África. Seria libertado ao fim de seis meses, mas faleceria pouco depois, a 22 de janeiro de 1965, na sua terra natal.
Ainda naquele debate, Francisco Manuel Fernandes, ex-presidente da Câmara Municipal e militante do PCP, abordou o episódio da homenagem prestada em janeiro de 1974 a Fernando Vicente no cemitério de S. João, em Torres Vedras, que terminou com uma intervenção da polícia local e da de choque.
Segundo ainda Domingos Abrantes, numa altura em que as forças repressoras da liberdade estão de novo a ganhar força, a luta e a vida de Fernando Vicente são um exemplo que continua a fazer todo o sentido.
De referir que a exposição “Tarrafal, o campo da morte lenta” está patente na Biblioteca Municipal até 14 de março.