Natália de Andrade (1910-1999) foi uma cantora lírica portuguesa ainda hoje famosa no mundo da música portuguesa (e não só) tanto por boas como menos boas razões. Obtendo algum sucesso no início da sua carreira, foi, no final da mesma, ridicularizada como cantora medíocre, como tresloucada, em vários programas televisivos e eventos semipúblicos. Em parte, Natália de Andrade é apenas uma protagonista mais da história subterrânea da cultura portuguesa que ficou soterrada sob o labéu de louca ou, pior ainda, excêntrica, sempre deslocada. Terminou os seus dias como piada fácil.
Esta ópera pretende devolver-nos uma outra Natália de Andrade, a que brilhou enquanto força individual numa sociedade provavelmente ela mesma mais fechada do que julgava, e, de tanto ter medo do ridículo, ridícula. Não terá Natália de Andrade sido mal diagnosticada, tanto como ‘pessoa de espírito frágil’ como de ‘frágil cantora lírica’? E essa mancha de presumível mediocridade não será ainda hoje a sombra que paira sobre todos os artistas? Estas serão as principais questões a abordar nesta ópera – a saúde mental, o "bullying" e as constantes fragilidades e inseguranças humanas comuns a todos nós.